
E ainda sem uma exploração adequada dessa linguagem jornalística
Participo como jurado do Prêmio de Jornalismo da Adjori-SC (Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina) há aproximadamente 10 anos. No começo na categoria de charges, como professor do Curso de Jornalismo e como chargista, mesmo já aposentado, com algum prestígio para atuar como jurado.
Passei a integrar a comissão julgadora em um período em que a jornalista Rita Lombardi, coordenadora da premiação, se referiu como os áureos tempos do concurso jornalístico, quando cada edição chegava a contar com a inscrição de mais de 400 trabalhos nas mais diferentes áreas e mais ou menos 50 jornais participantes. Lembro como era difícil e trabalhoso julgar aquele volume enorme de charges e escolher a Melhor do Ano. Na época, a Adjori/SC contava com aproximadamente 280 associados.
Hoje são 110 empresas associadas, menos da metade de 10 anos atrás, e mudei de categoria. A categoria de charges foi eliminada pelo trabalho que dava aos jornais, e por conta de incômodos e processos.
A coordenadora da premiação justificou a retirada desse quesito no Prêmio Adjori/SC de Jornalismo pelo número reduzido de inscritos. “Os jornais abandonaram esse excelente recurso para chamar atenção, de forma bem humorada, para situações por vezes trágicas, ou que exigem providências urgentes, por conta do excesso de ações por danos morais”. Ela acrescentou, ainda, que os próprios jurados passaram a observar uma queda na qualidade das charges, que se tornaram mais uma ilustração do que um recurso de humor ácido e crítico.

Observei, mais do que uma censura oficial, que a intolerância dos usuários e a facilidade da interação com os meios pelas redes sociais instituiu uma brutal “censura” que faz com que hoje um humorista seja condenado a oito anos de prisão. Não vou entrar no mérito se a piada era boa ou não, mas sim o ato de prender alguém por exercer uma profissão: a do humor.
São dias bem complicados. Permaneço como jurado, mas agora na categoria de jornalismo Multimídia, por ter sido professor de Webdesign e Jornalismo Online na UFSC. Nesta 26ª edição do Prêmio Adjori/SC de Jornalismo, um número reduzidíssimo de jornais se inscreveu no quesito Jornalismo Multimídia. Apenas 21 participantes, sendo 14 que atuam no meio impresso e on-line e sete só no online. Uma redução atribuída ao avanço do jornalismo online e redes sociais onde as pessoas perderam o hábito de ler o jornal em papel. Em Santa Catarina, o Diário Catarinense virou uma publicação semanal (e em seus áureos tempos conseguia a média de 50 mil exemplares de circulação), restando apenas o Notícias do Dia (ND), como jornal diário.Além da preocupação com a questão da charge ter sumido das publicações e com a redução violenta da mídia impressa, percebo que em pleno 2025, com a chegada da IA, século 21, os jornalistas ainda não conseguiram incorporar essa nova linguagem e não fazer um jornalismo realmente multimídia. Espero que seja apenas questão de tempo e de aprendizagem.
Há muito tempo fui convidado para ser jurado dessa categoria também. Foi uma experiência curiosa, tive de ir lá no escritório deles de noite, que nem lembro onde era. Sentei numa mesa redonda e a responsável me passou um calhamaço com exemplares dos concorrentes da categoria. Me deu uma ficha para registrar as notas, fiz isso em 1 hora e fui embora. Acho que recebi o convite pra solenidade, mas não pude ir.
Pelo que eu lembre, a qualidade era bem irregular. Já havia naquela época um pouco de chapabranquismo e emcimadomurismo, talvez não como hoje.
Uma pena realmente que a charge como tal esteja sumindo…
Opa,Ivan! Que bom te ver por aqui, obrigado pelo comentário. Tem razão, a qualidade era bem irregular, coisa boa e muita coisa complicada, e triste ver que a charge está sumindo, espero ainda viver dias com pessoas menos radicais de maneira que o livre pensar retorne. Grande abraço