
Navegando na Internet descubro que a edição número 1 vale 350 reais!

De vez em quando costumo ir no Google e dar uma busca pelo meu nome, muitas vezes as pessoas nos citam em alguma matéria ou até compartilham os nossos trabalhos e para minha surpresa encontro a Quadrins, revistinha de HQ que publiquei nos anos de 1979 e 1980, sendo vendida no Mercado Livre por 350 reais!!!
Aquela publicação foi uma aventura, sem recursos algum tinha de vender anúncios para viabilizá-la e conseguia, mas nunca deu para manter uma periodicidade o que dificultava ter um orçamento estável. A distribuição era complicada, em Santa Maria tinha a distribuidora Dominique que atingia os municípios da fronteira, São Pedro, São Vicente, Rosário do Sul, Alegrete e Uruguaiana, mas era muito pouco. Vim para Porto Alegre orgulhoso com a minha Quadrins Nº1 e procurei a Fernando Chinaglia, uma distribuidora Nacional, praticamente a única, pois a outra era a Abril que só distribuía as próprias revistas, quando cheguei na distribuidora fui atendido em um guichê, imaginava que conversaria com algum gerente em uma sala com cafezinho, mas não, o cara pegou minha revista, olhou, folheou e me devolveu dizendo que aquela revista não venderia e portanto não tinham interesse ou iriam distribuir… assim, sem mais. Terminei deixando as poucas Quadrins que tinha levado comigo em uma banca no Mercado Público e nunca voltei para pegar o dinheiro, pois não pagariam as passagens de ônibus.
Mas se a gente pudesse viver de glórias seria perfeito, a revista foi sucesso de crítica e conquistou muitos elogios em toda imprensa, saíram matérias na Zero Hora, Folha da Manhã, A Razão de Santa Maria, enfim, na mídia toda da época.
Através dela descobri várias outras publicações pelo Brasil como a Welta lá do Nordeste, Maria (também do Nordeste), Garatuja de São Paulo, a Historieta de Porto Alegre e muitas outras que um dia escrevo só sobre elas.

Mas a Quadrins revelou gente boa da época, como o desenho maravilhoso de Jair tambeiro Guimarães, publicou os consagrados Santiago e Edgar Vasquez assim como desenhos meus, caricaturas da Yara Souza e do famoso Byrata que terminamos por nos associar e levar o legado da Quadrins adiante quando tivemos a LGR Artes Gráficas e publicamos a Revista Nativismo entre outras tantas publicações regionalistas.
Foi uma tentativa de nacionalizar os quadrinhos, até na segunda edição publicamos uma agradável carta (sim, carta mesmo, mandei uma revistinha para ele e ele me escreveu uma carta de volta, tudo pelo correio) de Adolfo Aizen, sim esse monstro da história do quadrinhos nacionais escreveu para mim e assinou a carta de próprio punho!, era nada mais nada menos que o Editor Diretor da Ebal, uma das maiores editoras de quadrinhos do Brasil na época e responsável por muitos quadrinhos nacionais, entre elas O Judoka (que um dia vou falar especialmente sobre essa revista aqui, também). Com o tempo descobri o quanto fomos inspiradores para outros no futuro, tornamos Santa Maria em um polo de cartunistas pois o Byrata ficou na cidade dando continuidade com seu trabalho com o Xirú Lautério e com brilho próprio.
Com certeza não foi um sucesso financeiro, mas hoje, olhando para trás eu teria feito novamente, corrigindo muitos erros e tenho a certeza que se fosse atualmente, com as facilidades que temos nesse mundo cibernético, com o apoio das redes sociais ela teria sucesso, talvez retome esse projeto um dia.

