
Uma pintura tradicional de Osvaldo Schaukoski Júnior
Conheci Schaukoski no ano de 1988 quando na época eu era bem mais velho que ele, o tempo passou e hoje somos quase da mesma idade, somos contemporâneos e vivemos as mesmas experiências. Neste texto que ele compartilha com a gente um pouco de sua história e de como temos que lidar com as tecnologias e entendermos da importância de nos adaptarmos a elas. Vale a pena conhecer como pensa um profissional do calibre dele.

Arte digital
Este texto é uma reflexão sobre como a tecnologia transformou o trabalho de artistas, ilustradores e designers, culminando no impacto da Inteligência Artificial. Para contextualizar minha perspectiva, começo com minha própria trajetória.
O Início: Do Lápis ao Precursor Digital
Em 1988, aos 18 anos, mudei-me para Florianópolis com meu portfólio de desenhos debaixo do braço. Fui contratado como ilustrador no jornal Diário Catarinense por Clóvis Geyer, o diretor de arte, um dos artistas mais respeitados da região sul. Naquela época, nosso trabalho era totalmente analógico: usávamos lápis, papel, borracha, pincéis, nanquim e Ecoline (uma espécie de aquarela líquida). Para textos, usávamos o “Letraset“, cartelas com letras que decalcávamos para formar palavras. Ainda assim, o Diário Catarinense já era um pioneiro. Foi o primeiro na América do Sul a ter um servidor de fotocomposição, que criava textos diretamente em papel fotográfico. Lembro-me dos operadores trabalhando de jaleco branco em uma sala refrigerada, operando máquinas com bobinas giratórias que pareciam saídas da NASA. Para nós, era uma tecnologia sofisticada e caríssima, acessível apenas por terminais com telas âmbar e códigos misteriosos.
A Revolução dos Computadores Pessoais
A partir dos anos 90, a tecnologia se tornou mais acessível. Meu primeiro contato com o desenho digital foi com o Windows 3.0 e o Corel Draw 2, que rodavam diretamente de disquetes. Logo percebi que todos os softwares eram em inglês, o que me motivou a aprender o idioma. Minha pressa em aprender me levou a estudar em duas escolas de inglês simultaneamente, o que mais tarde me permitiu não só dominar os programas, mas também atuar como professor de inglês. Com o surgimento de programas como Photoshop 3 (que vinha em três disquetes), Adobe Illustrator e Aldus PageMaker, mergulhei de cabeça na editoração eletrônica. Na falta de técnicos especializados na minha região (Criciúma), acabei me tornando um especialista em TI por necessidade, aprendendo a fundo sobre os softwares e até sobre o sistema Macintosh, quando uma empresa italiana se instalou na cidade e precisava de suporte.
Uma Carreira em Constante Adaptação
Essa jornada me levou a trabalhar em diversas áreas da indústria criativa:
-Criação de matrizes para impressão em copos e embalagens plásticas.
-Desenvolvimento de estampas para serigrafia.
-Editoração de livros e jornais.
–Web design com Adobe Flash e, depois, com HTML5 e PHP.
Dei cursos, prestei consultoria para empresas de cerâmica em São Paulo e sempre me mantive atualizado com as últimas novidades, como as mesas digitalizadoras (tablets) e as impressoras de sublimação. Em mais de 30 anos, aprendi uma lição fundamental: o conhecimento se torna obsoleto, e precisamos estar sempre prontos para aprender algo novo.
A Chegada da Inteligência Artificial: Um Novo Paradigma

Esboço de Schaukoski com arte final e cores de IA, usando a Nano Banana
Há alguns anos, a Inteligência Artificial (IA) surgiu, quebrando mais um paradigma. A tecnologia que eu achava que jamais substituiria certas profissões começou a fazê-lo. A tradução de documentos, por exemplo, é um trabalho que hoje uma IA faz com perfeição, restando a nós apenas a supervisão. Agora, a IA também desenha e cria pinturas incríveis. Mas isso levanta uma questão filosófica: você já notou como as imagens criadas por IA parecem não ter alma? Falta algo que dê substância a elas. As imagens perfeitas da IA, como
| “E é aqui que o nosso papel como artistas e comunicadores se torna mais importante do que nunca. Nossa função não é apenas criar imagens bonitas, mas sim comunicar uma mensagem, uma história, uma emoção.” |
as inúmeras fotos de mulheres belíssimas que ela produz, são facilmente esquecíveis porque não contam nada. A Ferramenta é o Meio, a Mensagem é o Fim Lembro-me de uma crônica do grande Luís Fernando Veríssimo, onde ele dizia que as palavras são um meio, nunca um fim em si mesmas. O mesmo vale para as ferramentas artísticas. Ninguém discute a palavra; discute-se a ideia que ela transmite. Da mesma forma, o que importa não é se a imagem foi feita com lápis, com Photoshop ou com Inteligência Artificial. O que importa é a mensagem que ela comunica. Perguntar se é ético usar IA para criar arte é desviar o foco. A ferramenta é apenas um meio. Se você tem algo a dizer, uma história para contar, e usa as imagens geradas pela IA de uma forma humana e intencional, elas se tornam válidas. No fim, as ferramentas mudam, mas o objetivo da arte permanece o mesmo: conectar pessoas através de uma mensagem com significado
| Osvaldo Schaukoski Junior |
| É um profissional multifacetado que une criatividade, tecnologia e comunicação. Com sólida experiência como designer gráfico, ilustrador e web designer, ele também atua como técnico de TI, instrutor de design e professor de inglês. Fluente em português e inglês, oferece serviços de tradução e interpretação, posicionando-se como um parceiro versátil para projetos no Brasil e no exterior. |
