
Romeu Martins, roteirista e escritor, meu parceiro em vários trabalhos me deu de presente essa resenha sobre um dos personagens que mais gosto: Asterix, agora em novas aventuras com novos autores
Foram dois anos de espera, devido a uma disputa editorial sobre quem ficaria com o direito de lançamento de um dos maiores sucessos dos quadrinhos franceses, mas finalmente chegou às nossas bancas Asterix e A Íris Branca, quadragésimo aventura da imortal criação de René Goscinny e Alberto Uderzo. Pela sexta vez, os desenhos ficam a cargo de Didier Conrad, que assumiu a tarefa enquanto Uderzo (1927-2020) ainda estava vivo, porém se restringindo a supervisionar os trabalhos. Mas, pela primeira vez, o roteiro foi escrito por Fabrice Caro, mais conhecido como Fabcaro, um romancista, músico e quadrinista francês que substitui Jean-Yves Ferri, o parceiro de Conrad pela última década.

O novato já chegou com uma novidade interessante para nós, brasileiros, pois, como o roteirista declarou para a revista alemã Der Spiegel, sua inspiração para o vilanesco romano da vez veio de um conterrâneo nosso, muito popular entre os franceses. Viciovirtudus é um médico das legiões romanas que pretende acabar com um surto de deserções de soldados que atuam na frente gaulesa, fonte de preocupação para Júlio César. O método motivacional do sujeito é o que dá nome ao álbum: a Íris Branca, uma mistura de cuidados com a alimentação e pensamento positivo.
Por trás da reengenharia que altera expressões como “a aldeia dos loucos” para “a aldeia do povo diferente de nós devido ao seu comportamento imprevisível”, está aquela mentalidade de coach, as frases condescendentes, o misticismo neo-hippie de ninguém menos que Paulo Coelho, há anos morando na Suíça. A trama de Fabcaro lembra a da clássica aventura A Cizânia, só que agora o motivo para a perturbação da ordem no lar de Asterix e Obelix é a positividade tóxica inspirada em nosso mago alquimista ex-parceiro de Raul Seixas.
A confusão leva nossos personagens a uma visita a capital da Gália, Lutécia, tal como aconteceu em outro álbum de autoria de Goscinny e Uderzo: O Presente de César. E tome piadas, trocadilhos e referências visuais aos engarrafamentos monstruosos de Paris, sua gastronomia e vida cultural. Há ótimas sacadas nas brincadeiras com Bansky e Andy Warhol.
Quem acabou de publicar por aqui a história, lançada originalmente na França em 2023, foi a Editora Record, que se saiu vencedora da disputa com a multinacional Panini. A mesma casa talvez traga, ainda este ano, um segundo álbum dos gauleses, pois está previsto para outubro o lançamento mundial de Asterix e os Lusitanos. Vamos ver como se sai Fabcaro que, depois de sacanear um dos brasileiros mais famosos do mundo, vai se arriscar em uma outra especialidade nossa: contar piadas de portugueses.
