
Heróis nacionais que marcaram época
A produção de histórias em quadrinhos no Brasil não se restringiu apenas às adaptações de personagens estrangeiros. Desde meados do século XX, diversos artistas e roteiristas nacionais criaram heróis originais — alguns inspirados nos moldes norte-americanos, outros profundamente enraizados na cultura brasileira.
Entre eles, podemos destacar: Capitão Sete, O Judoka, Jerônimo, o Herói do Sertão, Homem Lua, Raio Negro, Velta e Mirza a Mulher-Vampiro
Esses personagens foram importantes para uma geração inteira de leitores que, pela primeira vez, puderam se ver representados como protagonistas heroicos.
Não sei exatamente o que aconteceu nesse período da nossa história para que o brasileiro tenha perdido a capacidade de se ver como herói. Eu mesmo tentei criar uma HQ nos anos 1990: uma edição de 40 páginas com um herói brasileiro.
Se quiser, você pode ler aqui: Tikuna.

Cheguei a ir a São Paulo negociar sua publicação como uma graphic novel, mas a proposta foi rejeitada por se passar em Florianópolis. Talvez hoje essa barreira não existisse.
Na minha adolescência, lia muitos quadrinhos. Vi diversos super-heróis nascerem e morrerem — principalmente os brasileiros. Já os estrangeiros, sobretudo os norte-americanos, seguem vivos até hoje. O Judoka foi um dos meus favoritos. Capitão Sete, eu era muito criança para acompanhar. Velta surgiu mais ou menos na época em que eu editava a Quadrins; até mandei alguns exemplares ao Emir Ribeiro, que me respondeu enviando edições de sua personagem, as quais guardo com carinho até hoje. Apesar de serem inspirados nos modelos estrangeiros, eu curtia bastante o Homem Lua e o Raio Negro, além de ter grande apreço por Jerônimo, o Herói do Sertão, que nasceu como novela radiofônica e fez enorme sucesso.
Uma teoria sobre a morte do super-herói brasileiro
E aqui vai apenas uma teoria — uma intuição sem comprovação, mas que compartilho como reflexão.
O que “matou” o super-herói brasileiro foi o espírito do Macunaíma. A alcunha de que o brasileiro seria um “herói sem caráter” foi reforçada culturalmente — até por Walt Disney, que nos retratou no personagem Zé Carioca: sempre desempregado, trapaceiro, enganando a Rosinha, sua eterna namorada.
Essa visão, somada à ideia de que o brasileiro carece de autoestima, acabou se infiltrando não tanto no povo, mas nos intelectuais, decretando a morte de nossos super-heróis. A partir daí, a tônica das criações nacionais passou a privilegiar o humor, a sátira, a crítica social, o anti-herói. Nada contra — eu mesmo vivi disso por anos como chargista e cartunista. Mas sempre me incomodou, e ainda me incomoda, que os nossos super-heróis não pudessem conviver em paralelo, como se os tivéssemos exterminado.
Como disse, é apenas uma teoria, nada que eu possa comprovar — mas me permito divagar.
Ainda assim, sigo insistindo: vou tentar criar um herói brasileiro. E já estou fazendo isso aqui: Terroristas do Tempo.
Se tem uma coisa que sou, é teimoso. 🙂

Capitão Sete
- Criação: Rubens Biáfora (roteiro) e Jayme Cortez (desenho).
- Ano: 1954.
- Contexto: Considerado o primeiro super-herói brasileiro da televisão. Capitão Sete nasceu no programa de TV de mesmo nome, exibido pela Record, estrelado pelo ator Ayres Campos. Rapidamente ganhou uma versão em HQ publicada pela Editora Continental. Tinha uniforme com capa e uma estrela no peito, lembrando os heróis clássicos da era de ouro dos quadrinhos.

O Judoka
- Criação: Personagem originalmente inspirado em Judo Master (da Charlton Comics, EUA).
- Adaptação Brasileira: Roteirista Pedro Anísio e desenhista José Delbo.
- Ano: 1969 (lançado pela Editora Ebal).
- Contexto: O personagem Carlos, discípulo de um mestre japonês, assume o manto do Judoka e combate o crime no Brasil. Apesar de ser baseado em um herói estrangeiro, sua versão nacional ganhou grande popularidade e identidade própria.

Jerônimo, o Herói do Sertão
- Criação: Edmundo Rodrigues (roteiro e arte).
- Ano: 1957.
- Contexto: Um dos maiores sucessos das HQs brasileiras, Jerônimo já era popular como programa radiofônico criado por Moysés Weltman em 1953, antes de migrar para os quadrinhos. O personagem era um típico herói sertanejo, defensor da justiça no interior do Brasil, enfrentando cangaceiros, jagunços e outras ameaças.

Homem Lua
- Criação: Gedeone Malagola.
- Ano: 1960.
- Contexto: Herói mascarado, com capa e uniforme lunar, claramente inspirado nos super-heróis norte-americanos. Atuava combatendo criminosos e cientistas malignos, típico das histórias pulp da época. É um exemplo claro da tentativa de criar um universo de super-heróis nacionais.

Raio Negro
- Criação: Gedeone Malagola.
- Ano: 1965.
- Contexto: Considerado um dos mais populares super-heróis nacionais, Raio Negro era o alter ego do milionário Roberto Salles, que adquiria poderes ao utilizar um traje especial capaz de manipular energia elétrica. Foi publicado pela Editora GEP e tornou-se um dos ícones da chamada “era dos super-heróis brasileiros”.

Velta
- Criação: Emir Ribeiro.
- Ano: 1973 (primeira aparição em fanzine; profissionalmente em 1979).
- Publicação: Saiu por editoras como Vecchi, Grafipar e Press.
- Descrição: Heroína sexy, com poderes de alterar seu tamanho corporal, lembrando a Mulher-Gigante da Marvel, mas com forte identidade nacional. Tornou-se uma das heroínas mais longevas das HQs brasileiras.

Mirza, a Mulher-Vampiro
- Criação: Eugênio Colonnese.
- Ano: 1967.
- Publicação: Editora Taika (uma das maiores editoras de quadrinhos nacionais dos anos 60 e 70).