Uma obra harmônica do texto aos desenhos, fiel ao original das telas, transpondo aos quadrinhos com notável qualidade e preciosismo.

Já não é novidade, até notícia velha, mas seria um erro meu não deixar registrado ou falar no meu Blog sobre Nosferatu de Romeu Martins e Sandro Zambi que foi, pelo menos para mim, o quadrinho do ano, e justifico.
A começar pelo roteiro de Romeu Martins, recontar uma história requer muita experiência, pois quem não sabia do fim dos Trezentos de Sparta? No entanto foi recontada por Frank Miller de maneira impressionante, tanto que praticamente sua HQ virou storyboard de um filme, ou mesmo Titanic de James Caremon, outro exemplo de que também todos sabiam do final e virou sucesso de bilheteria. Histórias recontadas com maestria.

Ao adaptar Nosferatu, o clássico do cinema alemão em preto e branco, lançada em 1922 e foi dirigida por Friedrich Wilhelm Murnau, que é considerada uma das primeiras e mais influentes representações de vampiros no cinema e um dos pilares do Expressionismo Alemão, Romeu Martins optou por cuidar de vários preciosismos já começando com as onomatopeias (linguagem própria dos quadrinhos para representar os sons) fossem em alemão, assim como os bilhetes manuscritos lidos em cena, não só fossem em alemão como representados por caligrafias manuscritas para preservar o original cinematográfico onde, já na página de abertura aparece um bilhete escrito a mão, criteriosamente reproduzido pelo trabalho de letrista de Mauro Abreu, harmonizando também com o desenho, feito a mão, de Sandro Zambi. Os figurinos que são usados pelos personagens na Era Biedermeier foram orientados pela consultora de moda Pauline Kisner, cuidados exercidos em vários detalhes desenvolvidos ao longo de uma obra criteriosamente editada e adaptada do cinema para os quadrinhos que nos propicia uma leitura muito fluída e agradável.
Com todo esse cuidado, os desenhos de Sandro Zambi são um espetáculo à parte, contemplando um trabalho que reforça a minha opinião para ser e edição de quadrinhos do ano de 2025. Na contramão do que é feito atualmente, Zambi optou por desenvolver todas as páginas da história no processo analógico, longe dos computadores, desenhou tudo com lápis, nanquim e aguada para produzir os meios tons, resultando em uma obra fantástica de mais de oitenta originais prontos para serem expostos em qualquer galeria de arte e conseguindo a mesma qualidade incansável do primeiro ao último quadrinho.

Mas o que mais gostei foi do contraste, uma história pesada recontada com um desenho delicado, que ainda assim consegue assustar, lembrou um dos clássicos do cinema de terror: A Inocente Face do Terror, filme de 1972 dirigido por Robert Mulligan, onde uma história sombria é contrastada com os rostos infantis de dois irmão gêmeos, crianças lindas com rostos infantis, filme que nunca esqueci justamente por que de uma criança, de onde nada em nossa imaginação poderia ser, ou associar, a um sociopata que provoca uma série de mortes em uma comunidade rural. Assim funcionou o desenho do Zambi, um traço delicado, reproduzindo cenas lindas em uma história terrível.
Se no cinema temos cenas reproduzidas em sucessão de planos, nos quadrinhos temos sucessão de páginas e planos distribuídas em uma cuidadosa diagramação onde Sandro Zambi soube transpor fielmente em uma linguagem estática o dinamismo da imagem sequencial em movimento, ambas as linguagens irmãs se sobrepondo perfeitamente.
Repito: para mim o quadrinho do ano.
Onde comprar
Nosferatu Capa comum – 15 abril 2025
por Mauro de Abreu (Autor), Romeu Martins (Autor), Sandro Zambi (Autor), João F. Souza (Autor)
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OBRA DA EDITORA KAIJU com DISTRIBUIÇÃO pela Tábula editora A sinfonia do horror de Murnau, agora em quadrinhos. O corretor imobiliário Thomas Hutter viaja para a Transilvânia a fim de negociar uma propriedade em solo alemão com o recluso Conde Orlock. Hutter sequer desconfia que seu excêntrico cliente é, na verdade, é um vampiro milenar que viria a desenvolver um interesse por Ellen, sua esposa, e espalhar terror e pestilência em sua cidade natal… Aceite o convite de Conde Orlok e venha se hipnotizar com essa releitura que promete ser tanto um tributo aos 100 anos de Nosferatu quanto uma experiência única para os fãs de quadrinhos, terror e cinema!
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Clóvis, eu nem tenho como agradecer por teu apoio! Fico muito feliz que tenhas curtido nosso trabalho e o que posso dizer em troca dessas tuas palavras é que vamos nos empenhar ainda mais para O Gabinete do Dr Caligari superar Nosferatu em todos os quesitos, de arte e roteiro. Muito obrigado!
Nada do que foi escrito é mentira, tudo verdade absoluta, o trabalho de vocês está incrível. Parabéns aos dois