
Ilustração gerada por IA para exemplificar a facilidade de fazer uma ilustração simplesmente descrevendo o que se imagina e ela executa em minutos em uma fácil concorrência com a capacidade humana (foi utilizado o ChatGPT)
Mais uma vez a IA trazendo um ponto para nossa reflexão, Logo após o Prêmio Candango de Literatura anunciar os finalistas em sete categorias, nesta quarta-feira (1˚), ilustradores denunciam que quatro livros indicados na categoria de Melhor Capa, da editora Mondru, descumpriram o regulamento do prêmio, que expressa a proibição do uso de inteligência artificial.
Essa norma deverá ser de agora em diante sempre presente em concursos de qualquer natureza, se é uma regra, deve ser cumprida, até já mostrei aqui que começam a aparecer competições exclusiva entre IAs. Nas informações que peguei do PublishNews, a organização ainda não havia dado resposta à denúncia dos ilustradores. O certame é realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF), em parceria com o Instituto Casa de Autores.
A penalização pelo uso de inteligência artificial está previsto no item 6.1.1 do regulamento, que estabelece: “Será desabilitada toda e qualquer obra que use recursos de Inteligência Artificial em sua confecção, devendo o autor declarar no ato da inscrição que não utilizou recursos de IA.”
A briga vai longe, mas se o edital especificava a não utilização de IA, a regra deveria ser cumprida pois gera a pergunta:
Pode um ser humano competir artisticamente contra a IA e vencer? Sim, por enquanto sim, pelo menos.
Atualmente a IA não tem autonomia absoluta, precisa de um ser humano para gerar um prompt, ela precisa de outro ser humano para solicitar a ela uma atividade, pelo menos por enquanto, dizem que pode piorar. Porém um humano competir com uma ilustração contra outro humano usando IA é covardia.
Esclareço:
1- O processo criativo não obedece um tempo padrão, pode ser tanto em um lampejo de criatividade quanto em um briefing demorado, pesquisado, mas mesmo nesse lampejo iluminado de uma ideia genial, ainda existe um tempo para refinar a ideia, lapidá-la e melhorar talvez em sutilezas, não a deixar vulgar, enfim e torna-lhe realmente criativa, para isso demanda um tempo mínimo, sei lá, duas horas talvez.
2- Depois vem o esboço, compor a imagem, fazer uma pesquisa semântica dependendo do trabalho, se for no período medieval ou algo futurístico, nem sempre nosso cérebro tem todas as informações visuais que precisamos, como ao termos a ideia automaticamente já fazemos um esboço mental do que queremos, mas digamos que levamos mais uma hora e meia para esse esboço e estudos de uma paleta de cores para, enfim, irmos para a arte final.
3- O acabamento vai depender do objetivo final, se será um trabalho hiper-realista ou simplesmente algo em preto e branco, a traço, as alternativas são inúmeras, mas vamos nos basear em algo que é muito difícil e a IA faz em segundos: o hiper-realismo, aí o bicho pega, um bom arte finalista levaria pelo menos uns dois dias para executar um bom trabalho, essa ilustração, digamos em um tamanho A3…
4- A IA faria em questão de segundos propiciando ao humano que a está manipulando possa corrigir, mandar arrumar, refinar, propor opções, mudar de paletas de cores, em uma “exaustiva” tarde de trabalho o “autor” (e aqui eu coloco em parênteses porque este “autor” não está usando o seu trabalho autoral, mas usando o trabalho autoral da IA) teria várias opções maravilhosas para escolher, aí talvez levar para o Photoshop e “aplicar seu estilo”, essa competição seria covardia.
5- Na verdade não existem parâmetros para comparar a produção de um artista gráfico/visual com seu talento e domínio das técnicas contra outro humano, também com domínio dessas técnicas usando as infinitas possibilidades da IA por isso temos de separar os concursos e não misturarmos categorias, considerando o uso de IA como uma categoria.
Ainda seguindo a briga, que vai longe, para vocês entenderem:
A Editora Mandru se defende através de nota oficial: “Nosso posicionamento oficial é de que as acusações são categoricamente falsas, irresponsáveis e de natureza criminosa. A Mondru Editora e o designer Jeferson Barbosa seguiram rigorosamente todas as regras do edital do 2º Prêmio Candango de Literatura”. Achei interessante como o coletivo de ilustradores se posiciona e justifica suas suspeitas enumerando os seguintes fatores:

– A composição mistura elementos visuais de naturezas distintas, o cão em estilo realista, mãos, taça de vinho e coração humano — combinados a chamas e símbolos religiosos estilizados. Essa justaposição de estilos e texturas é típica de criações em IA, especialmente em ferramentas como o MidJourney, que frequentemente produzem imagens híbridas com aparência de colagem. Além disso, a integração dos elementos revela transições com aspecto de pinceladas digitais, lembrando o efeito de brush painting característico desses modelos de geração de imagem. Ao que acrescento: realmente, se não educar a sua IA sobre princípios básico de plástica e composição ela não terá uma base da questão fundamental da Unidade e Variedade. Unidade de manter o mesmo tratamento plástico entre os elementos de seu trabalho.
Mas também convém o benefício da dúvida, vamos esperar o veredíto final antes de condernarmos a Editora.
Você pode ler a matéria completa aqui:
https://www.publishnews.com.br/materias/2025/10/02/ilustradores-denunciam-uso-de-ia-em-capas-finalistas-do-premio-candango-da-literatura
