
A imaginação humana não tem limites, este curta conta a história de uma montanha que através dos milênios se transformou em uma rocha, depois em uma pedra e só o que ela queria era dormir, que é o que as montanhas, rochas e pedras fazem de melhor.
Em pouco mais de cinco minutos, o curta An Object At Rest (2015), dirigido por Seth Boyden na California Institute of the Arts (CalArts), consegue condensar milênios de história da Terra sob o olhar de um protagonista improvável: uma pedra. Com uma delicadeza que combina humor, reflexão e poesia visual, a animação acompanha a jornada desse “personagem imóvel” através das eras — da formação das montanhas até a vida moderna — revelando o contraste entre o ritmo da natureza e a pressa humana.
A pedra, símbolo da paciência e da permanência, é deslocada por forças muito maiores que ela: placas tectônicas, rios, geleiras e, finalmente, a mão do homem. A cada transformação do planeta, ela testemunha civilizações nascerem e desaparecerem, até ser transformada em um pequeno objeto doméstico, quase irreconhecível — uma ironia fina sobre o destino das coisas e o poder humano de remodelar o mundo sem compreender o tempo que o formou.
A trilha sonora original, composta por Graeme Hindmarsh, venceu a 5ª Zurich International Film Music Competition em 2016, oferecendo uma nova dimensão emocional à narrativa. Hindmarsh, em sua versão “rescore”, conseguiu traduzir o sentimento de imobilidade e passagem do tempo em sons suaves e melancólicos, como se a própria Terra respirasse lentamente entre notas.
Visualmente, An Object At Rest adota um traço simples e expressivo, com cores suaves que evocam o estilo dos curtas de graduação da CalArts — escola reconhecida por formar grandes nomes da animação contemporânea, como Brad Bird e Glen Keane. Apesar da simplicidade, o curta é tecnicamente preciso e cheio de sutilezas: as transições de cena sugerem eras inteiras passando com apenas um movimento, e o uso da luz reforça o ciclo natural entre nascimento e desgaste.
Mais do que um exercício de estilo, o filme é uma reflexão sobre o tempo geológico e a fugacidade humana. O que é um império diante de uma montanha? O que são séculos diante de uma pedra? Seth Boyden, que mais tarde viria a trabalhar em estúdios como a Disney, cria aqui uma obra silenciosa e profunda, que poderia ser vista como um haikai visual — curta, precisa e infinitamente contemplativa.
Disponível no YouTube, An Object At Rest é uma dessas pequenas joias que lembram o poder da animação de fazer filosofia através de imagens simples.
Uma pedra que dorme, um planeta que muda — e o espectador que, ao final, aprende a ouvir o tempo.
